E já começo dizendo que talvez nesse texto vocês encontrem erros gramaticais, porque decidi escrever e enviar, sem passar por minha super revisora e filha, Aniké!
Há uns meses atrás ganhei uma inscrição num curso de escrita criativa da “Escrevedeira”. Na primeira aula não participei ao vivo, mas assisti ao conteúdo gravado. Logo de cara uma provocação da professora, a autora Gabriela Aguerre: escrevam um texto sobre como esticar um minuto. Achei interessante demais, e ia escrever sobre o tempo do café, que tanto me pego falando sobre.
O café faz isso com o nosso relógio: ele estica o tempo. No meu caso, tenho que pegar os grãos (e sempre dou uma fungada gostosa no pote), ligar o moedor e despejá-los ali. Gosto do barulho que a caída dos grãos faz! Aguardar a moagem, encher o bule com água fresca, acender o fogo, aguardar o tempo de ebulição. Ou de fervura. Verter (acho esse verbo muito chique) o pó no coador, às vezes de pano e às vezes de papel, e acompanhar essa chegada da água, as bolhas que se formam, esse terceiro cheiro que invade a cozinha. Até que tiro tudo de cima da garrafa, fecho e me sirvo. Quando a garrafa foi fechada corretamente, né? Tem vezes que preciso abrir e fechar de novo, e de novo.
Seria um texto lindo, se em minha vida não tivesse algo tão profundo acontecendo. A maternagem da minha mãe, que luta contra uma leucemia linfoide aguda há três anos, seguida de uma severa infiltração no sistema nervoso central, e que nesse momento do início das aulas veio morar comigo.
Paaara tudo! Para tudo que é possível parar e cuida da sua mãe, Patrícia. Foi o que o invísivel me soprou. E esse é o minuto que seguimos tentando esticar. Não em palavras, mas em ações. Amor é ação, como bem ensina Bell Hooks, no livro de cabeceira do momento: Tudo sobre o Amor: novas perspectivas.
Mas, viver é necessário. Seguir adiante é importante. E algumas coisas gostosas vêm acontecendo. E é sobre elas que quero falar.
Teve aula sobre herança afrodiaspórica na confeitaria brasileira para alunos de gastronomia, nutrição e aprendizagens do SENAC São Bernardo do Campo e foi muito especial. Principalmente porque uma das aulas foi dentro da biblioteca, que tem que ser um espaço de sons também, para além do silêncio.
Teve uma visita guiada do SESC Consolação ao Quilombaque, lá em Perus, para conhecermos esse projeto social tão importante para aquela comunidade e para aprendermos sobre a Revolta dos Queixada na antiga fábrica de cimento. A greve mais longa do Brasil e nesse link do Guia Negro você pode saber mais sobre.
Teve um encontro mágico entre eu e Andrea Lisboa, criamos “O Alimento do Movimento” para o SESC Consolação, onde em dois encontros pudemos encontrar em nossos corpos o passado, o presente e o futuro a partir dessa perspectiva afrodiasporica. Prometo trazer aqui a agenda dos possíveis novos encontros.
Teve um trabalho imersivo de uma semana, cuidando da alimentação e da narrativa sobre o alimento, para criadores negros do Spotify. Um corre lindo e importante da Eixo Estúdio. E para isso, eu trouxe a turma da Migraflix pra nos fazer feliz. Teve comida da Venezuela, Angola, Russia, Peru, Síria e Uganda. Olha que comida linda! E o que posso dizer é: caramba, que comida booooooooa! Na foto tem as delícias da Salsabil, uma cozinheira da Síria, e o suco é damasco.
Teve a Academia do Mel, um evento da Mbee, que busca nos ensinar sobre esse vasto mundo dos meles nativos. Uma das coisas que mais me marcou foi uma fala que dizia que as abelhas apis (as amarelinhas) são responsáveis pela polinização e que as nativas são responsáveis pela regeneração das nossas matas. E que das 400 abelhas nativas do mundo, 300 são brasileiras. Uau. Provamos mel das abelhas: mandaçaia, tiúba, jataí, borá, guaraipo, emerina, mombucão, rubi, uruçu boca de renda. Além de uma cerveja de mel de tiúba e um hidromel de jataí. Eita… e pólen de tiúba e de jataí também. Que experiência! Mel como tempero e não como remédio, como aprendemos.
Teve um encontro sobre Criação, com base nas minhas pesquisas de Comida Muito Além da Boca, para empreendedores da Casa Preta Hub. E vai ter um segundo encontro esse mês, sobre Produção. Tema tão urgente entre nós! Precisamos aprender a produzir e produzir pra gente!!!! As inscrições estão abertas! Corre!
Teve um convite lindo do projeto Lano-Alto para que eu fosse vivenciar a experiência “a comida é santa & de festa”, uma pesquisa deles e do Rafa Bocaina sobre o afogado. Um prato típico da Festa do Divino Espírito Santo da cidade de São Luis do Paraitinga. O Ricardo Mendes Mattos, historiador de Catuçaba nos deu uma aula sobre a tradição, os congados, os maracatus, a comida, a comunidade. E pudemos acompanhar as 05:00 da manhã, aos 6 graus, o baque da Alvorada. Foi a segunda edição da experiência e ano que vem tem mais! Coloca na sua agenda! Nessa imagem, uma erva que eu desconhecia: o louro do campo. Ele esteve presente no caldo do afogado, no vermute da Companhia dos Fermentados e no drink com pimenta rosa e koso de cambuci. Eles têm um jeito lindo de explicar isso tudo: “um pouco das experimentações com beneficiamento de produtos endêmcios da nossa região”
Teve também uma live que gravei sobre o papel do fogão à lenha e de utensílios como o pilão, a colher de pau, a louça de ágata e o tacho de cobre nos sabores da culinária mineira. Essa live está disponível no youtube da Carolina Dini (Cebola na Manteiga), para a 2ª edição do Festival Porteiras Abertas da Refazenda Rio Xopotó. Projeto que mora no meu coração e algum dia escrevo sobre ele.
Quanta coisa, né? mas não para por aí…
Semana que vem tem um encontro cheio de axé, dengo e urgência. A aula aberta que participarei ao lado da Zora Tikair para o curso ‘Alimentação Saudável numa afroperspectiva” da Crioula Curadoria. As inscrições ainda estão abertas, falaremos dos caminhos da memória ancestral pela cozinha. Esse tipo de encontr é de uma importância tamanha, para que a gente se junte, se ouça, se fortaleça. Para que vocês saibam dos trabalhos que estamos fazendo, e nos fortaleçam. Para que nossa história seja melhor contada, nossos saberes preservados e nossa memória protegida. Então…. venham! E se não puder participar, compra a inscrição e dá de presente para alguém que você saiba que precisa estar conosco nesse dia. É online!
Acho que por hoje é isso.
No mais, mandem boas energias para minha mãe, Dona Maria Fernandes Durães Bento. A guerreira!
Um xêro da Patty.
Ótimo texto. Saúde pra sua mãe
Alma no texto... E o texto que toca nossas almas. Obrigado por isso!