Essa é uma saudação do povo Zulu que significa “eu vejo você” e carrega a linda importância de reconhecer o valor e a dignidade de cada pessoa que chega à nossa frente. Ela é usada para dizer que: “Eu te vejo como um todo – suas experiências, suas paixões, dores, pontos fortes e fracos e o seu futuro. Você tem muito valor para mim.”
E é como eu tenho guiado as minhas experiências e pesquisas nos últimos anos. Com o olhar voltado para fora, para o outro, para o coletivo, para o todo, para o mundo.
Se já nos conhecemos: que delícia ter você por aqui! Por favor fique!
Se ainda não nos conhecemos: muito prazer! Sou Patty Durães. Mulher negra de 46 anos, mãe da Aniké (21) e da Ivy (12), trabalhei por quase 20 anos com produção de gastronomia no Brasil e em outros países e nos últimos tempos venho me apresentando como uma Polinizadora de Gentilezas para atrair cada vez mais coisas boas na vida. E me reconheci como Pesquisadora de Culturas Alimentares, que sou na verdade desde muito pequena. Afinal de contas, Dona Amélia (minha avó), me fez bem novinha, uma profunda conhecedora de itens da feira, da quitanda, do açougue e da peixaria. Ai de mim se comprasse alface no lugar de escarola. Era necessário saber a diferença e o entendimento do frescor do que seria preparado por ela!
Eu reclamava, mas hoje só agradeço!
Outra palavra que tem sido muito presente na minha vida há anos é SANKOFA, seu símbolo (ou adinkra) é aquele pássaro que voa para frente, tendo a cabeça voltada para trás e carregando no seu bico um ovo, o futuro. Seu conceito vem de Gana, África Ocidental, e é explicado através do provérbio que diz que nunca é tarde para voltar atrás e buscar o que esqueceu. Mas eu gosto de pensar que é fundamental retornar ao passado para ressignificar o presente e assim construir conscientemente o futuro.
Foi o que fiz para que hoje pudesse falar um pouco sobre ancestralidade. Especificamente sobre a minha ancestralidade negra! São anos de mentoria em projetos de afro-empreendedorismo na gastronomia ao lado da Feira Preta, que geraram conteúdos riquíssimos nas edições digitais de 2020 e 2021 da feira e que vocês podem acessar aqui. Anos e anos ouvindo sobre inovação e resiliência dessas pessoas em suas comunidades e em mim sempre ficava a vontade de criar algo, mas eu não sabia o quê e nem como começar.
Quando assisti à série Da África aos EUA: Uma Jornada Gastronômica fiquei muito impactada com a construção e a narrativa. Assisti três vezes, atentamente. Depois fui saber mais dos personagens e das pessoas por trás desse grande trabalho. E foi como se as cortinas se abrissem aos meus olhos, e minhas ancestrais fossem guiando no meu ouvido os caminhos da viagem para dentro de mim e para dentro delas, que eu deveria fazer.
Como não há coincidências em minha vida, mas a guiança de minhas ancestrais, um belo dia recebi uma mensagem que se desdobrou em um convite: desenhar um curso sobre ancestralidade. E como eu só penso em comida e ainda estava extasiada com a série, decidi criar o “Muito Além da Boca: um passeio transatlântico pela comida afrodiaspórica no Brasil”. Estruturei em 3 módulos: passado, presente e futuro. Convidei seis mulheres absurdamente incríveis para dividirem conosco suas percepções e estudos. Olha que aquilombamento e realeza maravilhosa.
O curso está delicioso, foi cuidado por uma equipe muito afetuosa do Itaú Cultural e da Salut! Não canso de agradecer e espero que não se cansem de me ouvir dizer: muito obrigada!
Aí…. por conta da repercussão e percepção da necessidade de continuar falando sobre passado, presente e futuro da comida afrodiaspórica no Brasil e no mundo decidi agendar alguns encontrinhos. Abri os caminhos no Espaço Casca da minha querida amiga, cozinheirassa, poeta e fermentadora de vegetais Carol Dini. Fizemos comidinhas com a ajuda preciosa do Projeto Vista Alegre que mandou vegetais incríveis, e no calor insano de Belo Horizonte nos refrescamos com cervejinhas da Stella Artois, que também me apoiou nesse evento. No dia seguinte, a convite de uma das mulheres mais incríveis que conheci nos últimos tempos, a Magna Cristina, falei na aula inaugural de um dos cursos livres e transversais da UFMG. Me senti muito honrada em poder conversar com jovens estudantes de economia, letras e outras áreas da universidade. Fora o passeio pelo macrocosmo universitário e o almoço no bandejão! A partir dessa experiência percebi que estava com saudade da sala de aula e tomei gosto por esse “trem”! Aliás… Minas Gerais tem cuidado muito de mim nesses últimos dois anos e eu espero poder te cuidar na mesma proporção.
Dia 15 de outubro tem a versão paulista do Conversas Muito Além da Boca lá na Casa Lúdica, os ingressos estão à venda, são limitados e eu vou amar dividir mais histórias com vocês.
Para um primeiro jornalzinho de boas vindas eu acho que está bom de tanta falaiada sobre mim. Vou aproveitar o espaço aberto para te dar algumas dicas legais de coisas que ando lendo, ouvindo e seguindo.
Podcasts
Brasil > Nós Mulheres da Periferia - bati um papo incrível com a super jornalista Semayat Oliveira sobre nutricídio. E olha que sensacional, a Semayat ganhou o Troféu Mulher Imprensa na categoria Liderança, diretora de redação ou fundadora de projetos jornalísticos. Orgulho define!
Mundo > Setting the Table, apresentado pela escritora Deb Freeman, esse podcast com 12 episódios é um projeto da Whetstone Magazine e fala das maneiras que afro-americanos moldaram a forma como o país come e bebe, explorando eventos históricos importantíssimos para a história negra da América do Norte.
Livros
Brasil > Cozinheirinhos da Diáspora, da Aline Chermoula. O livro infantil tem receitas com ingredientes de origem africana e conta histórias sobre ancestralidade e comida. As ilustrações são do artista Rangel Egídio. Para adquirir é necessário entrar em contato com a autora.
Mundo > Black Food: Stories, Art, and Recipes from Across the African Diaspora. Esse livro é do Bryant Terry. Eu comprei o e-book e devorei aos pouquinhos, pois é cheio de histórias, receitas e a contextualização é espetacular! Ainda quero pegar esse livro nas mãos. Não tem tradução para o português infelizmente, mas para quem animou em ler em inglês, dá pra comprar aqui nesse link!
E para uma curadoria incrível de livros afrodiaspóricos que vão além da temática alimentar, gostaria de recomendar a Livraria Africanidades. Mergulhe!
Programas de Receitas
Brasil > Vou indicar o da querida Laryssa Januário. Ela é de uma espirituosidade ímpar e suas comidas são sempre aquelas que vão abraçar corpo e alma. Onde assistir? No Sabor e Arte.
Mundo > Vou recomendar essa matéria do Okay Africa com 11 contas de instagram para seguir e cozinhar como uma mãe africana.
Para entender o veganismo negro
Brasil > Vou vestir a camiseta da minha família e recomendar que sigam minha prima, Chef Camila Botelho, que é coordenadora gastronômica da Sociedade Brasileira do Veganismo, que além de entregar beleza tem muito conteúdo sobre o tema, dicas e receitas fáceis e deliciosas. Eu já testei algumas!
Mundo > A lista é grande e sempre terei novos nomes para indicar, então logo de cara não vou me limitar e apresento esse artigo da VKind que traz cinco nomes que estão mudando a maneira dos EUA se alimentarem!
E depois, em outra edição do jornalzinho, serei mais profunda nessa questão do veganismo. Apesar de não ser, e acho que tão cedo não conseguiria, eu defendo o olhar mais sério do movimento negro. Vou te deixar na curiosidade! Acompanhe!
Comida Afrodiaspórica
Brasil > Além das incríveis mulheres que eu chamei para o curso e já mencionei aqui, não posso deixar de mencionar alguns restaurantes e dessa vez vou falar apenas de São Paulo, tá? Nas próximas eu venho com dicas do RJ, DF e MG. Marque suas refeições no Congolinaria, no Mama Africa La Bonne Bouffe ou em uma das duas unidades do Biyouz.
Mundo > A Chef Fatmata Binta, é natural de Serra Leoa e com seu restaurante pop-up roda o mundo enaltecendo a riqueza da comida do povo Fulani. Esse ano ela ganhou o Basque Culinary World Prize, que premia a figura mais importante do ano e que transforma a sociedade através da comida. Deixo aqui um vídeo para que você a conheça mais.
Ufa! Aqui tem bastante informação pra que você comece as imersões.
Quer ver alguma super dica por aqui? Manda para mim, vai ser muito legal saber de outros projetos e principalmente compartilhar!
Nos vemos no mês que vem?
Um grande abraço!
Patty Durães, setembro de 2022
Revisão de Aniké Pellegrini
Que maravilha poder te acompanhar por aqui também.